Muito se ouve falar em maus tratos, violência, abuso sexual, negligência e outros termos técnicos utilizados para se referir aos atentados contra milhares de crianças no mundo. É preciso refletir sobre o porquê desta realidade. Existem crianças que são estupradas cotidianamente dentro de suas próprias casas e por quem deveria prezar pelo seu bem-estar: os familiares. Por trás de um abandono pode existir uma criança encontrada em uma lixeira, desnutrida, doente. Por trás de maus tratos existe um adolescente espancado e torturado, repetidamente, por um familiar. Por trás de negligência existem crianças que não comem, que não tomam banho, que não vão à escola, que não têm nem mesmo consciência de sua existência cidadã. Existem ainda casos menos graves, quando a família simplesmente não consegue prover o sustento de seus filhos e eles ficam expostos aos riscos que a miséria impõe.
O que acontece com essas crianças? Como elas se desenvolvem neste ambiente? Como retornam ao convívio familiar?
Com o objetivo de auxiliar e, ao mesmo tempo, responder a essas e muitas outras perguntas o município de Gaspar instituiu o Abrigo Casa Lar. O objetivo maior é dar a estas pequenas vítimas da sociedade a possibilidade de prosseguirem com suas vidas e de reconquistarem o equilíbrio perdido. Desde sua fundação, a entidade passou por diversas mudanças que lhe permitiram tornar-se referência de profissionalismo e eficiência para todo o sul do país. A mais nova conquista da Casa Lar foi a criação da Diretoria Comunitária, em maio deste ano. A diretoria é formada por voluntários, que dispensam seu tempo e energia para fortalecer a entidade. Segundo a coordenadora da Casa Lar, Alessandra Letícia da Paixão, a diretoria comunitária veio para colaborar com a diretoria executiva, promovendo ações beneficentes para arrecadar recursos e aproximar a instituição da sociedade.
Para o presidente da diretoria comunitária, Mario José Schmitt o principal objetivo dessa iniciativa é mostrar para a sociedade gasparense a importância da Casa Lar esclarecendo os trabalhos lá realizados. “Angariar fundos também é importante, pois, funcionando 24 horas por dia, durante o ano todo, a Casa Lar tem um custo altíssimo, e disso a comunidade não sabe”, diz Schmitt.
Para a juíza da Vara da Infância e da Juventude, Ana Paula Amaro da Silveira, a criação da diretoria Comunitária confirma a aceitação da comunidade em relação ao trabalho realizado pela Casa Lar. A juíza destaca que a criação do abrigo é um marco em defesa dos direitos das crianças na Comarca de Gaspar. “Hoje, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) não é mais uma utopia em Gaspar. Ele é aplicado graças ao trabalho da Casa Lar que vem transformando as vidas destas crianças”, pontua.
Abrigamento
Quando uma criança chega à Casa Lar significa que a situação em sua família é insustentável. A equipe de profissionais - pedagogos, psicólogos, assistentes sociais - entra em ação, proporcionando à criança em risco um atendimento individual. “A vida das crianças continua, elas vão para escola e fazem suas atividades normalmente”, explica Alessandra. Além de cuidar dos menores, a equipe da entidade faz um acompanhamento com a família, viabilizando dessa forma o retorno ao lar, pois esta é a prioridade do trabalho. O número de casos resolvidos é bastante positivo, cerca de 55% das crianças retornam às famílias biológicas, já os demais são encaminhados para a adoção.
A Casa Lar atende crianças de 0 a 12 anos e tem capacidade para abrigar 30 menores, sendo que esse número pode chegar a 35 sem prejudicar a qualidade do atendimento. Atualmente, 35 crianças estão acolhidas na entidade.
Administração
A Casa Lar é administrada por uma Ong - organização não governamental - chamada Gaiaa – Grupo de Apoio à Infância e Adolescência Abrigada – que está à frente da entidade desde o ano de 2006. A estrutura física pertence ao município e os recursos financeiros são repassados pelas prefeituras de Gaspar e Ilhota. Empresas e pessoas contribuem por meio de doações e prestação de serviço voluntário, como o caso de funcionários de uma empresa blumenauense que organiza as festas de aniversário para as crianças abrigadas. Porém, como destaca Alessandra, a entidade e as próprias crianças ainda são vítimas de preconceito e da falta de informação.
Fonte: Direction Editorial (07/10/2008)