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É mais fácil entrar no Senado do que obter sucesso com as meninas no esquenta do Tunga

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é mais fácil entrar no senado do que obter sucesso com as meninas no esquenta do tunga
O Senado abriu concurso para 150 cargos e apareceu um milhão de inscritos. Dá uma média de 6,6 mil candidatos por vaga. Pois saí do esquenta no Tunga, naquele chuvoso sábado passado, com a impressão de que é mais fácil ser contratado pelo Senado com um salário de R$ 11,8 mil do que obter algum sucesso com meninas por lá.

Até levei uma trena para medir, por metro quadrado, o desequilíbrio entre a população de machos e fêmeas ao lado do Castelinho. Desisti do rigor científico por dois motivos. Primeiro, ladeado por tantos embriagados de álcool e testosterona, temi erguer as nádegas ao me abaixar com a trena na Rua XV. Segundo, num tribal instinto de auto-preservação, as meninas andam em bandos, comportamento que daria a idéia, falsa, de predominância feminina em certos pontos.

Não precisa ser um observador atento para captar os efeitos da opressora maioria masculina. Ao lado do caixa onde se vende chope, há distribuição gratuita de camisinhas. Fiquei ali cinco minutos, registrando a demanda. Foram 16 tíquetes de bebida contra um único, solitário e vil preservativo, cuja possibilidade de ser usado se aproxima do zero. Comprovei então a máxima do Doutor Welson: as pessoas procuram drogas quando falta-lhes sexo.

A concorrência sufocante estimula estratégias traiçoeiras, baixas até. O fisioterapeuta Fábio Catalano, paulistano, tem 36 anos. Nesta idade, um sujeito já sabe que toda mulher, por mais que dissimule, sonha em se tornar mãe. Por isto o Fábio foi ao Tunga de fraldas, tentando seduzir alguém com instinto maternal.

- E deu certo? - pergunto.

- Estou aqui desde quinta e não peguei ninguém. As meninas são difíceis, mas não desisto.

Embarrada até os joelhos, informação à qual só tive acesso pela coragem da moça em ir ao Tunga de saias, a administradora paulista Fernanda Neves, 22 anos, flanava com o ego nas alturas. Havia levado cinco cantadas.

- E não beijaste ninguém? - perguntei.

- Não. Descobri, aqui em Blumenau, que sou uma mulher exigente.

Recorri a técnicas de jornalismo investigativo para encontrar um casal cujos lábios tenham roçado a primeira vez ali no Tunga. O arquiteto Fernando Cavichioli, 30 anos, e a estudante Taís Picelli, 23, me salvaram do fracasso, mas com atenuantes. Beijaram-se naquela tarde, mas o cortejo foi exercido ao longo da viagem desde Limeira e Santa Bárbara do Oeste, onde moram.

Quando soube do prodígio de ter beijado uma mulher no Tunga, feito tão árduo quanto a aprovação no concurso do Senado, Fernando se pôs a pensar nas agruras da vida de arquiteto iniciante:

- Será que ainda dá para me inscrever?



Fonte: Jornal de Santa Catarina (16/10/2008)
 

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